terça-feira, 11 de agosto de 2009

Aquecimento global ameaça sobrevivência de tribo no Xingu

06/08/09 - 11h23 - Atualizado em 06/08/09 - 11h23

Aquecimento global ameaça sobrevivência de tribo no Xingu
Base da alimentação, peixes estão desaparecendo dos rios.
Incêndios começam a ocorrem em áreas que não queimavam.

Do 'New York Times'
Tamanho da letra
A- A+
sem atualização por Rosy Lee Brasil
Enquanto os jovens da tribo Kamaiurá, nus e pintados, se preparam para os jogos de guerra ritualizados de um festival, eles finalizam seu assustador canto com um som de sopro – uma tentativa simbólica de eliminar o odor de peixe, para que não sejam detectados pelos inimigos. Durante séculos, peixes de lagos e rios da selva têm sido o principal item da alimentação dos kamaiurás, e a mais importante fonte de proteína.




Peixes são a maior fonte de proteína dos índios Kamaiurás, que vivem em Mato Grosso, no Parque do Xingu. O alimento, contudo, está cada vez mais escasso. (Foto: Damon Winter/The New York Times)


saiba mais
Veja novas fotos dos índios isolados do Acre Incêndio devasta área equivalente a Brasília em terra indígena de MT Inpe detecta 578 km² de desmatamento na Amazônia em junho Com época menos chuvosa, aumentam as queimadas na Amazônia Cacique diz que índios da Amazônia precisam de 'guerreiros políticos' Vítimas de caçadores, 13 tartarugas-da-Amazônia são apreendidas no PA Reserva no Xingu forma nova turma de bombeiros indígenas
--------------------------------------------------------------------------------
Porém, o cheiro de peixe já não é mais um problema para os guerreiros. O desmatamento, e, segundo sustentam alguns cientistas, as mudanças climáticas globais, estão deixando a região amazônica mais seca e mais quente, dizimando populações de peixes e colocando em risco a própria existência dos kamaiurás. Assim como outras pequenas culturas indígenas do mundo todo, com pouco dinheiro ou sem capacidade de se mover, eles estão lutando para se adaptar às mudanças.

"Nós, os macacos velhos, aguentamos a fome, mas os pequenos sofrem – estão sempre pedindo mais peixe", disse Kotok, o chefe da tribo, parado em frente a uma cabana contendo as flautas sagradas da tribo, numa noite recente. Ele usava uma camiseta sobre a vestimenta tradicional da tribo, que é basicamente nada.

Kotok, que, como todo kamaiurá, possui apenas um nome, contou que os homens agora pescam noites inteiras sem uma mordida em suas iscas, em riachos onde os peixes costumavam ser abundantes. Todos nadam com segurança em lagos que, antes, transbordavam de piranhas.

Responsável por três esposas, 24 filhos e centenas de outros membros da tribo, ele disse que sua existência, antes idílica, havia se tornado um pesadelo. "Estou estressado e inquieto – tudo mudou tão depressa. A vida se tornou muito dura", disse, em português, falando através de um intérprete. "Como chefe, tenho de ter visão e olhar a estrada mais adiante, mas não sei o que acontecerá com meus filhos e netos".

Extinção cultural

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas diz que até 30% dos animais e plantas enfrentam um risco elevado de extinção, caso as temperaturas globais subam dois graus Celsius nas próximas décadas. Contudo, antropólogos também temem uma onda de extinções culturais em dezenas de pequenos grupos indígenas – a perda de suas tradições, suas artes, sua linguagem.

"Em alguns lugares, as pessoas terão de sair para preservar sua cultura", disse Gonzalo Oviedo, conselheiro-sênior de política social na União Internacional para Conservação da Natureza, em Gland, na Suíça. "Mas alguns grupos pequenos e marginais vão ser assimilados e desaparecer".

Almoço de macacos

Para se virar sem os peixes, as crianças estão comendo formigas em seu tradicional e esponjoso pão achatado, feito de sua farinha de mandioca tropical. "Não há muitas por aí, pois as crianças as comeram", disse Kotok sobre as formigas. Algumas vezes, membros da tribo matam macacos para comer sua carne. Porém, segundo o chefe, "você precisa comer 30 macacos para encher o estômago".

Vivendo no meio da floresta, com pouco dinheiro e nenhum transporte, apontou ele, "não temos como ir à loja de mantimentos buscar arroz e feijão para substituir o que está faltando".

Tacuma, o velho pajé da tribo, disse que a única ameaça rivalizando com a mudança climática foi o vírus do sarampo, que chegou ao centro da Amazônia em 1954, matando mais de 90% dos kamaiurá.

Tribos do gelo

Culturas ameaçadas pela mudança climática permeiam todo o mundo. Elas incluem habitantes de florestas tropicais como os kamaiurá, que enfrentam a diminuição dos suprimentos de comida, comunidades árticas remotas, onde as únicas estradas eram rios congelados que hoje fluem na maior parte do ano, e residentes de ilhas baixas, cuja terra é ameaçada pela alta dos mares.

Muitos povos indígenas dependem intimamente dos ciclos da natureza e tiveram de se adaptar às variações climáticas – uma estação de seca, por exemplo, ou um furacão que mata animais. Globalmente, entretanto, a mudança é grande, rápida e inevitável, levando a apenas uma direção: um clima mais quente.

Assentamentos de esquimós, como Kivalina e Shishmaref, no Alasca, estão "literalmente sendo varridos do mapa", disse Thomas Thornton, antropólogo que estuda a região. É que o gelo do mar, que há muito protegia sua costa, está derretendo, e os mares ao redor estão aumentando. Sem gelo endurecido fica difícil, quando não impossível, caçar focas, um pilar da alimentação tradicional.

Alguns grupos esquimós estão processando poluidores e nações desenvolvidas, exigindo indenizações e ajuda na adaptação. "Na opinião deles, eles não causaram o problema. Porém, seu estilo de vida está sendo ameaçado pela poluição dos países desenvolvidos", disse Thornton, pesquisador do Environmental Change Institute, na Universidade de Oxford. "O recado é que isso diz respeito a pessoas, e não apenas ursos polares e vida selvagem".

Acordo internacional

Em dezembro passado, durante negociações climáticas em Poznan, na Polônia, a Organização das Nações Unidas criaram um "fundo de adaptação", pelo qual as nações ricas poderiam, em teoria, ajudar os países pobres a se adaptar às mudanças climáticas.

No entanto, as contribuições são voluntárias, e até agora não houve nenhuma, explica Yvo De Boer, secretário-executivo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática. "Ajudaria muito se os países ricos pudessem assumir compromissos financeiros", disse.

Migração impossível

Ao longo da história, a reação final de culturas indígenas ameaçadas por condições climáticas insustentáveis, ou conflitos políticos, sempre foi se mudar. Hoje, entretanto, isso muitas vezes não é possível. As terras ao redor dos nativos estão geralmente ocupadas por uma população em expansão, e grupos que já foram nômades estão se estabilizando, construindo casas e escolas, e até mesmo declarando a criação de um estado.

Para os kamaiurás, as opções parecem limitadas. Eles vivem no meio do Parque Indígena Xingu, um vasto território que já foi escondido pela floresta, mas que hoje é cercado por fazendas e ranchos.

Desmatamento

Cerca de 12.950 quilômetros quadrados de floresta amazônica estão sendo desmatados anualmente, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Com muito menos verde, há menos umidade no ciclo de água regional, trazendo imprevisibilidade a chuvas sazonais e deixando o clima mais seco e quente.



Aprenda a vigiar o desmatamento usando o mapa do Globo Amazônia .

Isso alterou os ciclos da natureza que há muito regulavam a vida kamaiurá. Eles acordam com o sol e não possuem refeições definidas, comendo quando sentem fome.

Os estoques de peixe começaram a escassear na década de 1990, e "simplesmente desmoronaram" a partir de 2006, disse Kotok. Com temperaturas mais altas, menos chuva e menos umidade na região, os níveis da água nos rios estão extremamente baixos. Os peixes não conseguem chegar a seus locais de desova.

No ano passado, pela primeira vez, a praia do lago próximo à aldeia não estava coberta por água na estação chuvosa, tornando inútil o método da tribo para capturar tartarugas – colocando comida em buracos que se enchem, atraindo os animais.

Ciclos alterados

A agricultura da tribo também sofreu. Durante séculos, os kamaiurás faziam suas plantações quando determinada estrela aparecia no horizonte. "Quando ela aparecia, as pessoas celebravam, pois era o sinal para se plantar mandioca, já que viria o vento e as chuvas", lembra Kotok. Porém, há sete ou oito estações, a aparição da estrela deixou de ser seguida por chuva, uma divergência fatal, forçando a tribo a adaptar seu calendário.

Desde então, tudo tem sido um jogo de tentativa e erro. No ano passado, famílias tiveram de plantar sua mandioca quatro vezes – ela morreu em setembro, outubro de novembro, por falta de umidade no solo. Somente em dezembro o plantio prosperou. O milho também fracassou, conta Mapulu, irmã do chefe. "Ele brotou e secou", disse ela.

Especialista em plantas medicinais, Mapulu conta que uma raiz usada para tratar diarreia e outras doenças se tornou praticamente impossível de encontrar, pois a vegetação da floresta havia mudado. A grama que eles usavam para unir as colunas principais de suas cabanas também se tornou difícil de achar.

Contudo, talvez o maior medo dos kamaiurás sejam os incêndios florestais de verão. Antes úmida demais para queimar, a floresta aqui está em perigo pelo clima seco. Em 2007, o Parque Indígena Xingu pegou fogo pela primeira vez. Milhares de acres foram destruídos.

"Todo o Xingu estava queimando – isso machucou nossos pulmões e olhos", diz Kotok. "Não tínhamos para onde escapar. Nós sofremos junto com os animais"

Na mitologia dos índios tukanos, que vivem no noroeste do Amazonas, um banquinho de madeira é considerado um objeto sagrado.

Na mitologia dos índios tukanos, que vivem no noroeste do Amazonas, um banquinho de madeira é considerado um objeto sagrado. Pela lenda desses indígenas, Deus estava sentado num banco quando resolveu criar o homem.

sem atualização por ROsy Lee Brasil

Só que o banco de “ãmakõ nhecã”, o avô do universo em tukano, era de quartzo e feito num piscar de olhos celestiais. Reproduzir um móvel desses, à imagem e semelhança do banco de Deus, dá muito trabalho, a começar pela procura da madeira, nem sempre disponível perto de casa.



“O banco, para nós, para ser o símbolo dos tukanos, ele dá o poder de autoridade, dá o poder de ser um grande pensador, e ter uma grande responsabilidade”, explica Maximiliano Menezes, diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

Pelo Rio Tiquié, Celestino Resende, artesão tukano, procura uma parente da seringueira, a soveira, árvore de madeira macia. O manejo é rigoroso e tem autorização da Funai e do Ibama. Uma só árvore serve de matéria-prima para mais de vinte banquinhos.

O artesanato que faz dos tukanos os grandes mestres do entalhe do Alto Rio Negro é feito a machadadas. Os banquinhos são esculpidos nos blocos de madeira maciça. O mestre Celestino vai fazendo o pamarirrori, o delicado desenho que reproduz, no assento, a pelagem dos animais da floresta. Ele leva um dia inteiro para fazer um banco.



Sua família faz esses pequenos assentos há incontáveis gerações. “Desde aonde nasceu essa história do banco, veio passando até chegar aqui a nossa vez”, conta. O pai de Celestino, Aprígio, diz em tukano que o banco de Deus torna o homem sábio.

Com a produção desses banquinhos ainda não dá pra ganhar dinheiro, embora eles já tenham até sido vendidos em shoppings de decoração de São Paulo.

Mas os índios pensam em incrementar a produção. “Temos que buscar nossa autonomia, essa autonomia tem partir da gente. Nós mesmos é que temos que trabalhar, produzir, vender e ter nossas coisas”, comenta Menezes.

Região no interior do Amazonas guarda 19 línguas indígenas

Região no interior do Amazonas guarda 19 línguas indígenas
Na Cabeça do Cachorro vivem 23 povos diferentes.
Cidade de São Gabriel da Cachoeira tem quatro idiomas oficiais.
sem atualização Por Rosy Lee Brasil
Do Globo Amazônia, com informações do Jornal Hoje
Tamanho da letra
A- A+


Em um cantinho da Amazônia brasileira, próximo à divisa com a Colômbia, 19 línguas indígenas dividem espaço com o português. A região, conhecida como Cabeça do Cachorro, fica no noroeste do Amazonas e tem 23 povos diferentes.





São Gabriel da Cachoeira, a maior cidade da região, tem quatro línguas oficiais. É o único município quadrilíngue do Brasil. Entre os idiomas do lugar está o nhengatu. Baseado na língua dos tupinambás, foi inventado pelos jesuítas do século XVIII para evangelizar os índios. Os outros três idiomas são tukano, baniwa e o português – a língua usada para se comunicar com forasteiros.



Torre de babel



O índio baniwa Luís da Silva é um exemplo da “Torre de Babel” que se vive na região. Ele fala nove línguas: baniwa, tukano, wanano, kuebo, kuripaco, werekena, nhengatu, espanhol e português.

O índio tukano Laureano Maia, que aprendeu português com os padres, achou que podia esquecer o idioma de sua tribo. “Pôxa, e agora? Como que a gente vai ficar sem nada, sem cultura, sem mito, sem história?”.



Maia começou a recuperar a história de seu povo quando conheceu Judson, um adolescente de 16 anos cheio de perguntas. “Qual a minha etnia? Onde que eu pertenço? De onde que nós surgimos?” Para responder a todas essas dúvidas, eles conseguiram reaver o mito tukano da criação do mundo e, em um livro, salvaram ao mesmo tempo a língua e a cultura de seu povo.





Mito tukano



Segundo o mito tukano, no começo não existia água, não existiam árvores, não existia terra. Onde hoje é a Baía de Guanabara, Deus criou uma cobra-canoa. No ventre dela, nasceu a humanidade, com vários grupos étnicos. Eles foram subindo pela costa brasileira de sul para norte, percorrendo todo o litoral. Chegando perto da Ilha de Marajó, entraram no Rio Amazonas.

Navegaram rio acima até chegar no Rio Uaupés, na cachoeira de Ipanoré. O índio, o negro, o branco teriam surgido dessa cachoeira, e por isso ela seria tão grande. Cada buraco da cachoeira representa o surgimento de uma etnia.





O livro, todo escrito em tukano, foi impresso em uma gráfica de São Paulo. “Enquanto o índio estiver vivo, a cultura não vai acabar. Porque vai estar dentro de nós mesmos”, declara Judson.

Sem Atualização para Sempre Rosy Lee Brasil

/ índios
RSS O Portal de Notcias da Globo

09/08/09 - 22h45 - Atualizado em 09/08/09 - 23h14
Sem Atualização para Sempre Rosy Lee Brasil
Após 40 anos, índios do AM retomam cerimônia proibida por religiosos
Ritual serve para batizar crianças recém-nascidas.
Chás alucinógenos e ervas estimulantes são usados na festa.

Do Globo Amazônia, com informações do Fantástico
Tamanho da letra
A- A+


Um ritual proibido por religiosos foi retomado depois de 40 anos pelos índios tuyukas, que vivem no noroeste do Amazonas, uma das regiões mais remotas e belas do Brasil. A cerimônia, que tem chás alucinógenos, ervas estimulantes, benzeduras e invocação de espíritos da floresta, serve para batizar as novas crianças que nascem na aldeia.



Visite o site do Fantástico



A proibição dos missionários católicos que evangelizaram os índios no século passado. “Toda a coisa do índio, danças, vestimentas, a própria língua, era considerada como uma influência satânica”, explica Higino Tenório, líder do povo tuyuka. Com a modernização da igreja, o misticismo indígena deixou de ser pecado, e a cultura começa a ser resgatada.

Os tuyukas são um dos vinte e três povos da Cabeça do Cachorro, no noroeste do estado do Amazonas, a região de maior diversidade étnica do Brasil. Partindo da cidade de São Gabriel da Cachoeira, no alto Rio Negro, são três dias e meio de lancha, e 364 curvas no interminável ziquezague do Rio Tiquié até a aldeia Tuyuka de São Pedro, na fronteira com a Colômbia.

Para chegar até lá, é necessário vencer cachoeiras: tudo tem que ser retirado da lancha e embarcado mais pra frente, em trecho mais calmo rio acima.



saiba mais
Risco de nova gripe atingir indígenas preocupa Funasa Brigada de incêndio apaga queimada em terra indígena de MT Veja novas fotos dos índios isolados do Acre Cacique diz que índios da Amazônia precisam de 'guerreiros políticos' Reserva no Xingu forma nova turma de bombeiros indígenas Rede de madeireiros devasta reserva indígena em Rondônia
--------------------------------------------------------------------------------
Mistura de ervas

Um bebê de apenas dez dias é o motivo da festança. O ritual chama-se “Yeriponá baseriwi”, que em tuyuka significa “ritual de dar o nome”. Há 40, quando deixou de ser realizada, era a festa mais importante e motivo mais do que suficiente para interromper a rotina da comunidade para dar as boas vindas a um novo membro da aldeia. O nome escolhido para o menino foi Buá. “é um tipo de flauta sagrada”, conta o pai do bebê, Geraldino Tenório.

Um dos ingredientes do ritual é o epadu, o nome indígena da folha de coca. Na aldeia, são cerca de quinhentos pés plantados e colhidos pelos próprios índios. “Branco que plantar isso vai preso, né? Porque ele não usa no ritual, né? Ele estraga a humanidade, né?”, questiona Higino Tenório.

As folhas de epadu são torradas e socadas no pilão. São juntadas a folhas de embaúba, que são queimadas até virar cinza. A mistura é batida, peneirada numa bolsa, que parece um coador de pano. O resultado é um pó mais fino, com propriedades energéticas e anestésicas.

Os índios consomem o pó aos punhados. A boca fica dormente e o sono vai embora – a ideia é justamente ficar acordado durante os dois dias da festa. “A gente vai lembrando o que esqueceu. A gente vai pensando até lembrar tudo. Reaviva a memória.”, conta o benzedor Raimundo Tenório.

É o epadu que abre caminho para a ação do carpi, um alucinógeno feito com a casca de cipó, macerado no pilão, misturado à agua fria, coado, e bebido pelos sábios da aldeia. Um chá amargo, indigesto. Mas, dizem os índios, capaz de revelar espíritos invisíveis. “A gente vê cobras, cobras tudo pintado. A gente vê os triângulos”, conta o índio tuyuka José Barreto Ramos. As visões são reproduzidas nas paredes da grande maloca e passadas também para o rosto e para o corpo.

Ninguém pode comer nada. Apenas epadu. E beber, só carpi e caxiri, a bebida fermentada de mandioca, com teor alcoolico semelhante ao da cerveja. E só pode ser consumido o que os pajés benzerem, inclusive o tabaco e o rapé.

Poderes dos animais

Uma espécie de ladainha com a narrativa do mito tuyuka da criação da humanidade é entoada de vez em quando. Uma a caixa sagrada de adornos é aberta, e dela saem colares de dentes de onça e flautas de osso de anta, adornos que são como prolongamentos do corpo dos índios. Eles servem para transferir poderes dos animais dos quais foram extraídos para quem os estiver usando. Os cantos falam sobre os animais, as plantas, as visões, os espíritos da floresta.

Durante o ritual, o bebê passa de colo em colo, por todas as mulheres da família, como maneira de dizer a ele que será cuidado e acarinhado pela comunidade inteira. Quem dá a benção final é a anciã da aldeia. Apesar de seu nome, Buá, não chorou. Durante os dois dias de seu longo batizado, apenas dormiu e mamou enquanto o povo celebrava sua chegada.



Leia mais notícias de Amazônia

Novo Estatuto acaba com condição de inimputável do índio

Novo Estatuto acaba com condição de inimputável do índio
Publicada em 05/08/2009 às 21h45m
Evandro Éboli - O Globo
atualizado Por Rosylee Brasil
Comentários
BRASÍLIA - A nova versão do Estatuto dos Povos Indígenas acaba com a condição de inimputável do indígena e permite que ele seja julgado pela Justiça Federal caso cometa algum crime. O texto, encaminhado nesta quarta-feira ao Congresso Nacional pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, prevê que, no julgamento, seja levado em conta os usos e costumes do índio e que até seja feita uma perícia antropológica, para avaliar essas peculiaridades culturais.

- Mas aquela ideia da tutela de que o indígena não tem noção de que matar uma pessoa seja algo errado, está superada - disse o secretário de Assuntos Legislativos do ministério, Pedro Abramovay.

O novo estatuto tem 249 artigos e, nesse capítulo da criminalização, diz que quando o ato for praticado entre índios, que é preciso respeitar a decisão da própria comunidade, que pode aplicar alguma punição ou mesmo inocentar o acusado. Pelo documento, ainda que o caso vá aos tribunais, o juiz pode entender que a pena aplicada é suficiente e, assim, não emitir qualquer sentença. O estatuto diz que o indígena condenado deve cumprir pena, preferencialmente, em regime aberto e na sua tribo, ou, caso seja regime fechado, numa prisão distinta da dos não-índios e o num local mais próximo possível da sua aldeia.

O estatuto também lista uma série de crimes contra os índios e prevê punições para quem oferecer bebida alcoólica ao indígena, para quem escarnecer (fazer piada) com suas cerimônias e seus rituais, e também prevê crime de racismo contra essa comunidade. Em relação a atividades econômicas, o texto cria linhas de crédito subsidiadas por bancos públicos para os indígenas explorarem projetos comerciais, como agricultura. Em relação à exploração de recursos minerais em suas terras, os índios terão direito a resultado da pesquisa e lavra dos minérios encontrados. Quanto a recursos hídricos, como construção de usinas, o estatuto diz que as comunidades podem vetar esses projetos em suas áreas. Pedro Abramovay afirmou que esta não é uma posição unânime dentro do governo e que esse artigo pode ser revisto na sua tramitação.