terça-feira, 19 de maio de 2009

Respeito

Respeito

"Se achamos que o nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela terra é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas se acreditarmos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro da sua própria família, e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar."
(Claudio Villas-Bôas ; sertanista)
"O índio estacionou no tempo e no espaço. O mesmo arco que ele faz hoje, seus antepassados faziam há mil anos. Se eles pararam nesse sentido, evoluíram quanto ao comportamento do homem dentro da sociedade. O índio em sua tribo tem um lugar estável e tranquilo. É totalmente livre, sem precisar dar satisfações de seus atos a quem quer que seja. Toda a estabilidade tribal, toda a coesão, está assentada num mundo mítico. Que diferença enorme entre as duas humanidades: uma tranquila, onde o homem é dono de todos os seus atos. Outra, uma sociedade em explosão, onde é preciso um aparato, um sistema repressivo para poder manter a ordem e a paz dentro da sociedade."
(Orlando Villas-Bôas ; sertanista)
"As diferenças superficiais entre os homens encobrem uma unidade profunda."
(Claude Lévi-Strauss; antropólogo)
"O índio brasileiro tem direitos. Direitos definidos na Constituição. Eu insisto neste ponto, na existência de direitos, porque tenho ouvido e lido palavras a respeito da conveniência de respeitar esses direitos. No momento em que eu abandono a Constituição, acabou o Direito, acabou a Justiça, acabou a paz social. Não há inconstitucionalidades convenientes"
(Dalmo Dallari ; jurista)
"Em vários grupos indígenas brasileiros se encontra a visão de que é preciso 'amansar o branco', fazê-lo ver que a vida não pode fundar-se na devastação."
(Washington Novaes; jornalista)
"Um parâmetro para medir a felicidade é a capacidade de sorrir. Os índios têm essa capacidade de sorrir e brincar, talvez pelo desapego a algumas coisas as quais estamos presos."
(Sidney Possuelo; sertanista)
"São comuns as narrativas em que os índios aparecem como irresponsáveis predadores da própria natureza em seu todo; matando, destruindo, incendiando. Absurdo. Como ninguém, eles se consideram parte da Natureza em que vivem, têm por ela um respeito que nossa civilização perdeu há muito tempo."
(Orlando Villas-Bôas ; sertanista)
falando sobre o passado: "Nenhum povo pode deixá-lo perecer antes de haver tomado consciência, inteiramente, de sua originalidade e de seu valor, e antes de tê-lo memorizado. Isto é uma verdade geral, porém mais ainda no caso desses povos que se encontram na situação privilegiada de viver seu passado no momento exato em que, para eles, um futuro diferente se delineia."
(Claude Lévi-Strauss; antropólogo)
"Os índios não têm o fanatismo da verdade. Várias versões discrepantes sobre os mesmos eventos são perfeitamente assumidas."
(Darcy Ribeiro ; antropólogo, no livro 'Diários Índios')
sobre os índios Guarani-Kaiowá: "... em poucos povos se testemunha uma religiosidade tão intensamente vivida: queremos ser deuses, eles dizem; mas só somos homens"
(Pierre Clastres ; antropólogo)
"...há também o grave problema do relacionamento entre os índio e o elemento humano vindo de fora, isto é, o civilizado. De que forma se poderia conciliar as duas sociedades ? Uma estável, ajustada ao meio, equilibrada, apoiada em padrões culturais bem definidos; e outra adventícia, desordenada, que chega para transformar florestas em pastagens e cujos membros não mantém entre si nenhum vínculo, exceto o mesmo e constante propósito de obter lucros."
(Orlando Villas-Bôas ; sertanista)
"É muito difícil entender outra pessoa. Às vezes são línguas, comportamentos diferenciados que não conseguimos entender, mas isto não é importante. O importante é respeitar, vamos respeitar o diferente. Somos seres humanos; passamos 60, 70 anos nesta terra e depois vamos embora. Devemos então ter solidariedade."
(Sidney Possuelo; sertanista)
"Por quê não perpetuar, mesmo colocando-os somente por escrito, velhos hábitos e costumes que estão de toda forma condenados ? Quanto menos lhes prestarmos atenção, mais depressa hão de desaparecer. Nós mesmos, em alguns períodos de nossa história, não teremos cedido às mesmas ilusões e fomos obrigados, mais tarde a multiplicar esforços para reatar com um passado cujas raízes havíamos querido cortar?"
(Claude Lévi-Strauss; antropólogo)
"Poderíamos dividir os políticos: aquele que vê as razões do índio e aquele que vê o problema em função dos seus próprios interesses."
(Orlando Villas-Bôas ; sertanista)
sobre críticas à atividade fotográfica em aldeias indígenas: "É algo que dói ouvir, mas não me sinto atingida e jamais me desmotivei por isso. Tenho convicção de que não levei elementos negativos a nenhum desses lugares. Isso não tem relação com a fotografia em si, mas com a qualidade do ser humano que para lá se dirige, ou seja, com a integridade da pessoa e com sua postura ética. Podem ser fotógrafos, antropólogos, geólogos, o que quiser - e obviamente políticos também. Temos de considerar sua postura frente ao ser humano em sua totalidade."
(Claudia Andujar ; fotógrafa)
sobre o povo Guarani: "Eles são muito mais abertos do que nós para aprender as coisas dos outros, eles dialogam com a gente. O dialogo intercultural não somos nós que fazemos, são eles. Quantos de nós falamos Guarani? E quantos deles sabem português? A maioria. Eles aprendem, mas também estão escolhendo não sair do modo de vida deles. É uma escolha positiva, não é porque não saibam sair, é que não querem sair. Estes povos são exemplos pra nós de dialogo intercultural, que não e botar água no vinho e fazer uma coisa que não é nem água nem vinho. Diálogo cultural é beber água e beber vinho."
(Bartolomeu Meliá ; jesuíta)
"Eles (os índios) precisam ser ouvidos e não tutelados ou tratados arbitrariamente. Os índios não estão em vias de extinção. Se encontram, como grande parte da população, sob risco de miséria, de falta de assistência médica, educação, e de incentivo a práticas de geração de renda. Mas continuam aumentando sua população e etnias, totalizando hoje cerca de 700 mil (pessoas)."
(João Pacheco de Oliveira; professor do Departamento de
Antropologia do Museu Nacional / UFRJ)
"O que mais me chamou atenção no (Parque Indígena do) Xingu foi a doçura das relações. As pessoas daquele lugar são uma maravilha! Fui para lá acompanhado de um assistente, que é francês, e ele disse uma coisa engraçada e que caracteriza bem o clima de lá: 'aqui a gente não viu nem cachorro brigar, não é Sebastião!'. E foi assim mesmo, a gente não viu agressividade entre as pessoas, o que é tão comum hoje em dia em vários lugares do planeta, não é mesmo ? Mas lá não tinha."
(Sebastião Salgado; fotógrafo)
sobre os índios: "Sabe da civilização que vem e é inevitável, mas nem suspeita do seu horror, que virá destruir a adaptação ecológica e a convivência solidária que têm, raríssima. Nossa civilização é incapaz de criá-las ou preservá-las. No mundo inteiro seu papel foi destruí-las, empobrecendo, apropriando, dizimando os povos que encontrou."
(Darcy Ribeiro; antropólogo)



Iandé - Casa das Culturas Indígenas: rua Augusta 1.371 , loja 07 - Galeria Ouro Velho - São Paulo
Horário de funcionamento: segunda a sexta das 10:00 às 19:00h ; sábado das 9:00 às 14:00h
fone: (11) 3283.4924 email: iande@uol.com.br

Pensamento Indigenas

Pensamento Indígena e Tradicional

"Eu dou um recado para vocês brancos, para que não poluam os rios. Porquê isso vai afetar o futuro não só dos índios mas dos filhos de vocês também."
(Aritana Yawalapiti ; líder do povo Yawalapiti, do Mato Grosso)
"Nós índios, olhamos para esse mundo do homem branco e verificamos que essa civilização não deu certo."
(Marcos Terena ; do povo Terena, do Mato Grosso do Sul)
"Antes nós não sabíamos que tínhamos limites, só sabíamos que tudo era floresta... Agora demarcamos nossa área porquê é só o que sobra dos lugares antigos."
(Kumai ; índio do povo Waiampi, do Amapá)
"Não digo: eu descobri essa terra porquê meus olhos caíram sobre ela, portanto a possuo. Ela existe desde sempre, antes de mim."
(Davi Yanomami ; pajé e líder do povo Yanomami)
"Eu não fico deitado sem pensar."
(Rupawê; velho sábio do povo Xavante, do Mato Grosso)
"No dia em que não houver lugar para o índio no mundo, não haverá lugar para ninguém."
(Aílton Krenak ; do povo Krenak, de Minas Gerais)
"Você vai me dizer: o índio tá falando mas é selvagem; selvagem é vocês, milhares de anos estudando e nunca aprenderam a ser civilização. Pra que você está estudando ? Pra destruir a Natureza e no fim destruir a própria vida ?"
(José Luiz Xavante)
"Eu lutei, mas a guerra não é necessária, não resolve nada. Guerra é coisa de gente cabeça dura que, mesmo com estudo, não pensa. O que resolve é o amor."
(Aurélio Jorge Terena; índio do povo Terena, que lutou pelo Exército Brasileiro na Itália, durante a II Guerra Mundial)
"Nós os índios, sempre cantamos e dançamos nas nossas cantorias, como forma de manter a unidade do nosso povo e a alegria da comunidade. Se a gente cantar e dançar, nós nunca vamos acabar."
(Verônica Tembé; líder da aldeia Tekohaw, do povo Tembé)
"Para nós indígenas, a palavra é de grande valor. É através das histórias contadas pelos mais velhos que mantemos viva a nossa identidade e firme a memória da nossa história, o uso e o cuidado com a nossa terra sagrada. Mas, descobrimos nesses 500 anos de colonização que para os não-índios a palavra não vale nada."
(Carta do Ororubá; IV Assembléia Geral do povo Xukuru do Ororubá)
"Queremos que a floresta permaneça silenciosa, que o céu continue claro, que a escuridão da noite caia realmente e que se possam ver as estrelas. As terras dos brancos estão contaminadas, estão cobertas de uma fumaça-epidemia xawara que se estendeu muito alto no peito do céu. Essa fumaça se dirige para nós, mas ainda não chega lá, pois o espírito celeste Hutukarari a repele ainda, sem descanso. Acima de nossa floresta o céu ainda é claro, pois não faz muito tempo que os brancos se aproximaram de nós. Mas bem mais tarde, quando eu estiver morto, talvez essa fumaça aumente a ponto de estender a escuridão sobre a terra e de apagar o sol. Os brancos nunca pensam nessas coisas que os xamãs conhecem, é por isso que eles não têm medo. Seu pensamento está cheio de esquecimento. Eles continuam a fixá-lo sem descanso em suas mercadorias, como se fossem suas namoradas."
(Davi Yanomami ; pajé e líder do povo Yanomami)
sobre o homem branco: "O mundo deles é quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa à outra, entram em caixas que andam. Eles vêem tudo separado, porque são o Povo das Caixas...."
(frase de um pajé do povo Kaingang, recolhida por Lúcia Fernanda Kaingang)
"Não compreendemos porque uma filha dos Kaingang precisa estudar leis escritas e aprender saberes que não são nossos. O que você precisa saber que nossos velhos não podem lhe ensinar ? O que se pode aprender de um Povo que não respeita seus anciãos e abandona suas crianças ? Para que irá um Kaingang estudar leis feitas por estranhos, leis que eles mesmos não cumprem ? Não! Nunca compreenderemos que a lei não seja conhecida por todos, porque nossas leis não são escritas, mas são cumpridas porque são sagradas."
(frase de líderes do povo Kaingang registradas em 1995 por Lúcia Kaingang, advogada indígena, quando decidiu estudar Direito)
"Eu acho que o branco vai resolver problema do branco. Quem vai resolver meu problema é eu."
(Raoni ; líder do povo Caiapó)
"...Esta terra, aqui, era nossa. E agora eles comeram. Agora está tudo feio. Eu estou triste de ver o que foi feito aqui, o que a mão do branco fez. O lugar onde eu nasci. Destruíram tudo. Isso aqui era parte da nossa terra. Aqui, era uma terra boa. Eu não gosto do trabalho dos garimpeiros. Vocês mataram a floresta. O rio acabou. Acabaram os peixes. (...) Por quê o chefe de vocês mandou destruírem essa terra ? O chefe de vocês tem que entender que vocês não podem ir pra nossa terra. Eu não gosto de destruição. Eu não gosto disso aqui não. Eu nasci aqui. Eu caçava aqui. Pescava aqui. Aqui, era minha terra. Não é a terra de vocês. (...) Olha essa terra aqui. Eles comeram o lugar onde eu nasci. Tudo acabou. (...) Eu vou explicar pro chefe dos brancos que vocês acabaram com tudo, com a floresta e com a água."
(Aké Panará ; líder do povo Panará. Em 1974 esses índios foram transferidos de sua terra original por causa da construção da rodovia Cuiabá-Santarém. Dezoito anos depois, Aké retornou à sua terra, uma floresta que se transformara num garimpo abandonado, e não conteve seu desabafo.)
"... a preservação da cultura indígena, em vez de barrar o progresso, como dizem alguns caçadores de índio, estará salvando nosso país da destruição de muitos valores, provocada por essa selvagem civilização tecnocrata."
(Margarida Tapeba ; professora indígena do povo Tapeba.)
"A gente tinha uma insatisfação que não passava. Fomos conversando sobre a força dos nossos usos e costumes. Deu muita vontade de aprender mais, para poder também ensinar um dia. A vida tem que ter um sentido, uma sequência. (...) Hoje eum sei quem sou. Estou em paz. Minha língua, minha cultura, são muito ricas e bonitas. Elas são nossa identidade. Sei da beleza e da força da natureza. Sinto a força do pensamento. Quando ele é firme não existe nada impossível, nem nada superior ou inferior."
(Raimunda Yawanawá ; a primeira mulher do povo Yawanawá a tornar-se pajé, falando sobre os motivos de sua escolha e seu pensamento hoje em dia)